IRPAA celebra 30 anos de trabalho pela convivência com o Semiárido
O Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), que tem como um dos seus fundadores o 2° Bispo da nossa Diocese, Dom José Rodrigues, inicia hoje (23) e segue até o dia 27/11 uma programação celebrativa pelos seus 30 anos de trabalho pela convivência como o Semiárido. Debates, apresentações culturais e depoimentos são algumas das iniciativas que serão realizadas de forma virtual para celebrar a data.
Segundo os organizadores, serão realizados três eventos virtuais de 23 a 27 de novembro, que serão transmitidos pelo canal do youtube do Irpaa (TV Irpaa). A abertura da celebração, acontecerá a partir das 19h30, do dia 23, com uma live temática, “O que é Convivência com o Semiárido e que sociedade queremos?”, com a participação de representantes do Irpaa e de organizações parceiras. Música e interações do público marcarão este momento.
Na quarta-feira, dia 25, acontecerá o “Seminário técnico-científico: elementos fundamentais/centrais da Convivência com o Semiárido”, das 15h às 18h, por meio da plataforma Zoom e com transmissão pelo youtube. O momento irá debater aspectos históricos e o atual contexto político relacionados a Convivência.
“Perspectivas e defesa da Convivência com o Semiárido”, será o tema da live de encerramento da semana, que acontecerá no dia 27, a partir das 19h30. As atividades celebrativas contarão com a participação de várias entidades, movimentos, agricultores e agricultoras e diversas instituições parceiras, da sociedade civil e do poder público.
Conheça um pouco da história do IRPAA, sua história e seus projetos de Convivência com o Semiárido no texto abaixo, feito especialmente para o site e redes sociais da Diocese de Juazeiro/BA.
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IRPAA – 30 ANOS DE TRABALHO PELA CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO
Perfil e contextualização
O Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA, é uma Organização Não Governamental, de fins não econômicos, com sede em Juazeiro, Bahia, e atuação prioritariamente em todo o Semiárido brasileiro, podendo abranger todo o Território Nacional. Seu público principal é do segmento de agricultura familiar. Desenvolve ações de natureza pública, preponderantemente no âmbito da promoção e apoio a iniciativas de defesa e garantia de direitos de populações em situação de vulnerabilidade e risco social, do campo e da cidade. Tem como bandeira de luta a Convivência com o Semiárido, a qual busca contribuir para consolidação por meio do fortalecimento das organizações sociais, suas lideranças e ações que prezem pelo desenvolvimento sustentável da região, considerando-a como digna de conversão em política pública. Dispõe de equipe multidisciplinar, variando de 60 a 140 profissionais, para execução de dezenas de projetos, alcançando diretamente um variável número de famílias atendidas, da ordem de aproximadamente 10.000 famílias.
A instituição surgiu em 1990, sendo idealizada por lideranças pastorais e Comunidades Eclesiais de Base – CEB’s, sendo Dom José Rodrigues, um dos mentores e o primeiro presidente do Irpaa. Teve-se como principal motivação o contexto político da época, se não atual, de ver o Semiárido e seus povos tratados como desprovidos de potenciais sócioeconômicos, os efeitos das secas visto como fatalidades e ação do estado baseada em ações emergenciais e eleitoreiras. O Irpaa se propôs a contribuir para ruptura de paradigmas como o de “Combate à seca” para a Convivência com a realidade climática local. Se lançou na construção e implementação de políticas públicas apropriadas à região e capazes de promover empoderamento sócio econômico das famílias que aqui vivem, com sustentabilidade ambiental. Algumas frases de Dom José Rodrigues marcam o processo de mobilização e reflexão das pessoas em torno da busca por direitos e qualidade de vida, dentre estas:“No Sertão não falta água, falta justiça”. Esta se traduz em anunciar que existe chuva em volume suficiente para assegurar vida em abundância, mas, falta a estrutura para guardar a água do período de ocorrência das chuvas para uso na estiagem, ou quando há estoque está em quantidade insuficiente à todas as demandas de água das famílias, ou em propriedades privadas, sem acesso pela população.
Missão, conceito e caminhada
O Irpaa tem como missão, a formação e valorização do ser humano através da consolidação da Convivência com o Semiárido, visando alcançar o bem viver e plena qualidade de vida.
A Convivência com o Semiárido é um conjunto de técnicas, métodos e hábitos compatíveis com as condições ambientais do lugar, tendo como princípios a compreensão sobre as especificidades do clima, o acesso à terra, à água, ao saneamento básico, educação contextualizada, comunicação, produção de alimentos vegetal e animal a partir de espécies apropriadas. Com preservação e recuperação da biodiversidade, e empoderamento político dos povos, em vista ao Bem Viver no Semiárido, apesar das variações climáticas (IRPAA, 2017). Dentre seus valores estão: igualdade; equidade; pluralidade; democracia; solidariedade; sustentabilidade e justiça.
Ao longo desses 30 anos, o Irpaa atuou numa escala aproximadamente decenal, pela divulgação, início de implementação, consolidação e defesa da proposta de Convivência com o Semiárido. Inicialmente a instituição se dedicou, em conjunto com comunidades e outras organizações em formatar um esboço da proposta de Convivência – em construção contínua, e anunciar a mesma pelo Semiárido, para a sociedade e poderes públicos. Posteriormente, passou a contribuir também na implementação por meio da execução de ações não somente de formação e divulgação, mas, também de estruturação das unidades de produção, principalmente no Território Sertão do São Francisco e circunvizinhos, sobretudo no âmbito de programas relacionados à água. Em sequência, com a diversificação de programas governamentais no âmbito estadual e/ou federal contemplando diversas ações inerentes à Convivência, a instituição passou a fortalecer a perspectiva de consolidação da proposta, contribuindo na implementação de ações diversificadas no âmbito da segurança hídrica e alimentar, geração de renda, e meio ambiente. Nos últimos tempos, dada a natureza negacionista do governo federal e frente ao desmonte de diversas políticas públicas sócias, passamos a acampar a defesa da Convivência como forma de resistência e superação aos entraves do Semiárido.
O trabalho ganhou força e busca resistência pela execução em redes, com destaque à Articulação Semiárido Brasileiro – ASA, em que milhares de grupos congregam e lutam pelos mesmos objetivos.
Para promoção da Convivência com o Semiárido o Irpaa desenvolve diversos projetos, das seguintes natureza: Sensibilização, mobilização e organização social; Pesquisa, sistematização e formação; Produção e propagação de material didático; Educação contextualizada; Divulgação e promoção da comunicação para a Convivência com o Semiárido; Estruturação hídrica por meio da captação, estoque, manejo e uso de água de chuva; Estruturação produtiva no âmbito da produção agroecológica de alimentos; Assessoria Técnica e Extensão Rural para Agricultura Familiar; Acesso à políticas públicas; Beneficiamento e Comercialização de alimentos; Apoio no reconhecimento de povos e comunidades tradicionais e seus territórios; Recuperação de áreas degradadas; Saneamento básico rural e reuso de água; Mitigação dos efeitos e adaptação às mudanças climáticas.
Os projetos, atividades e as produções didáticas são agrupadas por afinidade nos seguintes Eixos temáticos: Terra e Território; Clima e Água; Produção Apropriada; Educação Contextualizada; e Comunicação para a Convivência com o Semiárido.
Avanços, desafios e perspectivas
Apesar das adversidades climáticas, juntamente a outras intervenções de acesso a trabalho, renda, educação, saúde e eletricidade, o trabalho de formação, acesso e gestão de água alcançando mais 1.2 milhões de famílias, possibilitou a eliminação das migrações em massa, saques em supermercados e mortes precoces por fome e sede, de milhares de pessoas no Semiárido. Esse é o maior legado do referido trabalho.
Tem-se como desafio, transformar a proposta de Convivência com o Semiárido em Políticas Públicas nas diversas esferas de poder, e assegurar uma contínua formação e mobilização social para a garantia de tais ações como direitos humanos fundamentais, e dever do Estado. Do mesmo modo, contornar a contribuição antrópica ao processo de mudança climáticas, que vem transformando áreas úmidas em semiáridas e tornando aspectos do semiárido mais próximos da aridez, o que requer cada vez mais dispêndio para as ações de adaptação ao clima e mitigação dos efeitos.
O passar dos anos não modificou a missão da organização, ao contrário, o momento é de destacar, ainda mais, a missão e função do Irpaa, em colaborar com a sociedade brasileira, suas organizações populares e movimentos sociais, para continuar a construção e defesa da Convivência com o Semiárido em sua essência, frente a resistência ao seu avanço ou forças contrárias da atualidade. Assim, a defesa da Convivência com o Semiárido se propõe a preservar a vida, das pessoas e da natureza, na relação com a Caatinga, suas águas, povos e comunidades do Semiárido. Denunciar as devastações, desmatamentos, queimadas, produção de energias não renováveis, a monocultura, produção a base da mecanização pesada e dos agroquímicos, e transgênicos, e seus malefícios – alteração do efeito estufa, desertificação e por consequência as mudanças climáticas. A humanidade precisa aprender a conviver e a minimizar os efeitos das mudanças climáticas. E no Semiárido, vemos que a proposta de Convivência é o que temos de mais salutar.
Texto: Comunicação IRPAA