Diocese de Juazeiro

Diocese

UM OLHAR SOBRE NOSSA HISTÓRIA

Primeiro veio a Evangelização

A civilização brasileira começou a adentrar o Brasil a partir do São Francisco. Salvador ainda era a capital da colônia, a cana de açúcar tomava conta do Recôncavo, mas o gado que abastecia Salvador era criado no Salitre, afluente do São Francisco. A estrada boiadeira, que levava o gado até Salvador, existe até hoje, cortando a região em direção de Uauá, assim até a antiga capital.

Foi acompanhando as fazendas de gado – muitas das quais se tornaram cidades – que os primeiros missionários andaram pelo São Francisco. Pambu, hoje interior de Curaçá, foi um dos pontos de missão dos Capuchinhos, que aprenderam a língua Cariri e evangelizaram os índios em sua língua de origem.

O primeiro a chegar na região foi o francês Bernard de Nantes, que embarcou para o Brasil aproximadamente em 1677 e, entre fins de 1681 e início de 1682, se dirigiu à região do São Francisco.

A missão franciscana chega a Juazeiro em 1706. Erguem uma capela com a imagem de da Nossa Senhora das Grotas (Grutas), encontrada no rio São Francisco. Ela foi encontrada por um índio, que a entregou a um vaqueiro, que a repassou para um missionário que pregava no sertão. Juazeiro já era um dos pontos de passagem do gado, facilitado pela Ilha do Fogo.

Assim, durante séculos, antes que a Diocese de Juazeiro fosse criada, missionários e padres perambulavam pelo sertão do São Francisco, alongando-se pelas caatingas, visitando as comunidades e realizando as famosas desobrigas, isto é, momentos para batizar, casar e celebrar a missa. A catequese cotidiana e a evangelização mais constante ficava para os leigos do local.

A criação da Diocese de Juazeiro

Toda essa região pertencia à Diocese da Barra, de onde partiam os realizadores das desobrigas. Barra foi desmembrada de Salvador. Desciam o São Francisco de barco e, em determinados locais, adentravam a caatinga. Assim, por muitos anos, o território que hoje é a Diocese de Juazeiro, era uma área pertencente à Diocese da Barra.

Mas, em 21 de julho de 1962, o Papa João XXIII criou a Diocese de Juazeiro. Começa a existir uma Igreja juazeirense propriamente dita.

O primeiro Bispo desta Diocese foi D. Tomás Murphy, um Padre cidadão americano que atuava em Manaus. Ele foi ordenado Bispo em 10 de janeiro de 1963. Ele era da Congregação dos Redentoristas.

Sua primeira tarefa como Bispo foi tentar dar um mínimo de estrutura à nova e grande diocese. Na verdade, era e é, até hoje, um espaço de missão. Municípios como Pilão Arcado e Sento Sé, por seu tamanho, além das dificuldades de acesso até hoje, são praticamente áreas missionárias. Assim como Campo alegre de Lourdes, não tanto pelo tamanho, mas pelo isolamento que vive devido à condição das estradas.

Mas, ele não ficou apenas na dimensão administrativa. Com poucos padres e religiosas para cooperar em sua missão, implantou movimentos que à época tinham força no Brasil, como o Cursilho de Cristandade, Treinamento de Líderes Cristãos. Foi um primeiro momento decisivo para os tempos que viriam depois.

Quando D. Tomás renunciou por motivo de saúde, veio para seu lugar D. José Rodrigues, um bispo também Redentorista. Tomou posse em 16 de fevereiro de 1975.

Acontece que, quando chegou, o regime militar estava no auge de seu poder. Toda essa região era área de segurança nacional e os prefeitos eram indicados pelo governador da Bahia e nomeados pelo Presidente da República. Em 1974 começaram as obras da barragem de Sobradinho, concluída em 1978. Quatro cidades foram relocadas – Casa Nova, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé – removendo, aproximadamente, 72 mil pessoas. Sem dúvida, uma situação caótica.

Ainda com poucos padres e religiosas, chamou leigos que pudessem ajudar na tarefa de apoiar essa população em transe. A Igreja vivia naquele momento a atualização do Concílio Vaticano II na América Latina, particularmente, a partir da Conferência de Medellin e Puebla.

Dentro desse contexto, reforçou-se na diocese a opção pelos pobres, concretamente por essas populações relocadas e abandonadas pelo poder público. Investiu-se muito nas Comunidades Eclesiais de Base, nas lideranças vindas do povo, na formação bíblica, catequética, no apoio à defesa da terra, na conquista da água e de uma nova política para essa região. Foram tempos de muitos conflitos, mas também de uma firme decisão de estar efetivamente com o povo.

Nesse período também foram criadas várias pastorais sociais que deram apoio ao povo necessitado, como a da Mulher marginalizada, da Saúde, da Terra, dos Pescadores.

As conquistas para a população dessa região, com a contribuição da diocese, foram muitas. Houve uma relativa mudança política com a queda das oligarquias, uma certa defesa da terra, dos direitos dos reassentados, da conquista da água, enfim, de uma cidadania mais avançada. A vida do povo em geral é melhor que 30 anos atrás.

Mas é preciso realçar, sobretudo, a conquista de uma fé encarnada, mais madura, comprometida, de uma igreja tecida de rostos locais, uma igreja sertaneja, juazeirense, franciscana. Uma legião de leigos e leigas, liderando as comunidades, promovendo a catequese e celebrando a Palavra nos cultos dominicais, promove a evangelização de base, que chega nas comunidades do interior, onde ainda hoje é mais rara a presença dos padres.

Com a saída de D. José Rodrigues, pelo avanço de sua idade, em 30 de agosto de 2003 chegou D. José Geraldo da Cruz, atual bispo emérito, da Congregação dos Assuncionistas.

No primeiro momento não houve grandes rupturas com o legado de D. Tomás Murphy e D. José Rodrigues. Houve sim uma acentuação na formação de um clero local, na formação de seminaristas. O resultado é uma quantidade maior de padres que vão assumindo as paróquias onde havia poucos padres.

Também houve nesse período a incorporação do município de Uauá à Diocese de Juazeiro, assim como a fundação de novas paróquias, que aos poucos dão outra configuração geográfica ao território diocesano.

Foram criadas outras pastorais, como a Pastoral da Pessoa Idosa, Comunicação e Universitária. Vem sendo dada uma reanimação na Catequese.

Houve, também, uma maior preocupação com a questão administrativa, de se criar uma estrutura mais aparelhada para dar conta das atividades pastorais.

Durante o pastoreio de D. José Geraldo, celebramos os 50 anos de fundação da Diocese de Juazeiro e a elevação da Catedral diocesana à Santuário Nossa Senhora das Grotas.

Próximo a completar 75 anos, Dom José Geraldo pede ao Papa a nomeação de um bispo coadjutor que o sucedesse no pastoreio desta Igreja local. Assim, em setembro de 2016 passa o comando da Diocese para seu quarto bispo. Como bispo emérito, permanece morando em Juazeiro, terra que elegeu para viver e continuar a servir.

Dom Carlos Alberto Breis Pereira, OFM, ou, como gosta de ser chamado, Dom Beto, é o 4º bispo de nossa Diocese de Juazeiro da Bahia. Ele que é um Frade Franciscano, nascido em São Francisco do Sul, veio ser bispo às margens do rio São Francisco, exatamente no papado do Papa Francisco.

Tanta coincidência pode ser lida também como um sinal de Deus, nesses tempos ecológicos, de exigência de uma verdadeira conversão ecológica, da contemplação do evangelho da criação, mas também da decadência visível do nosso rio São Francisco.

Nasceu em 16 de setembro de 1965 em São Francisco do Sul, Diocese de Joinville (SC). Ingressou na Província Franciscana da Imaculada Conceição e fez o noviciado. Depois, se transferiu para a Província de Santo Antônio do Brasil, no Nordeste. Emitiu a profissão religiosa como Frade Menor Franciscano em 1987 e foi ordenado sacerdote em 1994.

Fez os estudos filosóficos e teológicos em Olinda e Recife (PE). Em sua Ordem, exerceu diversas funções de serviço, formação e liderança. Licenciou-se em Teologia Espiritual pela Pontifícia Universidade Antonianum em Roma, entre 2005 e 2007.

Sua eleição como Bispo coadjutor de Juazeiro foi anunciada em fevereiro de 2016, enquanto morava em Recife, atuando como provincial dos Franciscanos. Assumiu como Bispo diocesano de Juazeiro no dia 07 de setembro de 2016, durante o novenário de N. Sra. das Grotas.

Com as bênçãos de Deus da Senhora das Grotas, agora desempenha seu pastoreio nessa Diocese, às margens do Velho Chico, no coração do Semiárido Brasileiro.

A Diocese de Juazeiro chega aos seus mais de 50 anos de caminhada com um belo histórico de serviço ao povo, em todas as suas dimensões, como pede o episcopado latino americano desde Medelin.

Certamente ainda há muito por fazer, tanto em nível interno como também para o conjunto da sociedade. Mas, essa Igreja, de certa forma, ainda jovem, já tem história para contar e celebrar nesses seus mais de 300 anos de evangelização.

Por Roberto Malvezzi (Gogó), com colaboração da Pascom diocesana.