Diocese de Juazeiro

Bispo da Diocese de Juazeiro emite “Mensagem de Indignação e Solidariedade” sobre comunidades atingidas por mineradora em Campo Alegre de Lourdes/BA

DOM CARLOS ALBERTO BREIS PEREIRA, OFM (DOM BETO)
BISPO DA DIOCESE DE JUAZEIRO – BAHIA

Assim diz o Senhor todo-poderoso: Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas de Samaria! Os que dormem em camas de marfim, deitam-se em almofadas, comendo cordeiros do rebanho e novilhos do seu gado; os que cantam ao som das harpas, ou, como Davi, dedilham instrumentos musicais; os que bebem vinho em taças, e se perfumam com os mais finos unguentos e não se preocupam com a ruína de José. Por isso, eles irão agora para o desterro, na primeira fila, e o bando dos gozadores será desfeito (Amós 6,1.4-7)

Amados diocesanos, caros irmãos e irmãs,

Paz e Bem!

É à luz da Palavra de Deus proclamada em nossas liturgias no último domingo (29 de setembro) que venho manifestar com o afeto e o zelo de Pastor minha indignação diante do drama imposto a tantas famílias e comunidades rurais do Município de Campo Alegre de Lourdes nestes últimos anos pela Unidade de Mineração Galvani. Como pude ouvir atentamente dos moradores em visitas realizadas naquela comunidade, desde a implantação dessa mineradora, em 2005, a lagoa – principal fonte hídrica da comunidade de Angico dos Dias – tornou-se contaminada e absolutamente inapropriada para uso; além disso, o ar também contaminado tem provocado problemas respiratórios e outros males nos seus moradores. Nestes últimos dias a situação se agrava com a detonação de explosivos que deixam atemorizados os moradores e colocam em risco estruturas frágeis de suas residências e cisternas. Há três anos tais explosões já provocaram danos e prejuízos a tantos que já vivem privados de direitos fundamentais.

Sabemos que a avidez pelo lucro de empresas desse ramo tem gerado morte e sofrimento em todo o Brasil e os casos gritantes de Brumadinho e Mariana acenderam luzes de alerta que jamais podem ser extinguidas. Fica sempre mais evidente que o lucro e os sucessos nas cotações importam incomparavelmente mais que vidas humanas e de tantos outros elementos da Criação, nossa Casa Comum. Os pobres – figurados por José nas palavras do Senhor através de Amós – permanecem não sendo objeto de preocupação dos poucos que se beneficiam com as riquezas da terra.

Denunciando tal situação, colocamo-nos pois ao lado dos moradores das comunidades em situação de medo e sofrendo os efeitos dos impactos ambientais do citado empreendimento suplicamos às autoridades competentes medidas firmes e eficazes no sentido de garantir os direitos das populações locais e, assim, a justa qualidade de vida para todos. A Paróquia Nossa Senhora de Lourdes e a Comissão Pastoral da Terra tem oferecido solidariedade e apoio concreto às famílias, o que conta com nosso apoio e comunhão.

Que nestes tempos de epidêmica indiferença diante de dores e sofrimentos impostos a tantos, como tanto nos adverte o Papa Francisco, deixemo-nos “contaminar” e contagiar pela terna compaixão, possibilidade indispensável para construirmos juntos uma sociedade onde os privilégios de alguns não tolham direitos de muitos. Que a “ruína de José” não nos encontre anestesiados e a-páticos.

+ Carlos Alberto Breis Pereira

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Confira o documento original da Mensagem assinada por Dom Beto Breis: aqui.

 

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